top of page
Buscar
Foto do escritorVinicius Cabral

Limonada surpresa



Aquela era uma tarde muito quente. 

Em nenhum dos meus dez verões vividos até ali, nunca havia sentido tanto calor. 

O que aliviava a gente eram as saborosas limonadas que minha mãe fazia para a hora do almoço. 

Naquele dia, do ano de 1971, não havia ninguém em casa. Eu acabara de entrar correndo, suado e fui direto pra geladeira. 

Era uma “Frigidaire” azul, marca que o meu pai dizia ser a melhor do mundo. Ele sempre dava preferência às marcas mais famosas , como a da TV “Phillips”, que comprou à prestação, na Casa Perso Brasileira. 

E ali estávamos nós: eu e a Frigidaire azul. 

O suor escorria no meu rosto. Olhei aquela porta fechada e imaginei o que poderia haver lá dentro que pudesse aplacar a minha sede de dragão. 

Abri a porta devagarinho e lá estava ele. O caneco de alumínio que minha mãe usava para fazer os sucos da família. Algo saboroso deveria haver ali dentro.   Sobre ele, apenas um pratinho de louça servia de tampa. 

Segurei-o pela alça e o trouxe devagar. Retirei o pratinho com cuidado e lá estava ela... meio esbranquiçada. Deveria ser o efeito do limão, imaginei. 

Pego um copo grande? - pensei.  Não! O “servico “ tem que ser rápido, antes que chegue alguém e me pegue com a boca na botija, quer dizer, com a boca no caneco. 

Olhei para a  porta... ninguém. Olhei para todos os lados pra ter a certeza de que ninguém me via. 

E então, dei aquela golada no caneco de limonada. Enchi a boca até o limite... e engoli. 

Porém, para minha surpresa, o sabor não era o mesmo. Não era conhecida e saboreada limonada da minha mãe. 

Era clara de ovos... crua.

Minha mãe havia guardado naquele caneco, enorme quantidade de clara de ovos, para usar em outra ocasião. 

Foi aí que descobri o sentido da expressão: “o apressado come cru”. Ou melhor; bebe claras. 

Maldita pressa!


13 visualizações0 comentário
bottom of page